sexta-feira, 25 de dezembro de 2009

Comitê Olimpico quer militarizar esporte.

10.07.2009

São Paulo - SP


Comitê planeja seguir países como Rússia, China e França, em que atletas representam o Exército
Projeto-piloto forma cem marinheiros no Rio, que não terão de fazer plantões em quartéis, mas disputarão os principais campeonatos

O COB (Comitê Olímpico Brasileiro) quer militarizar atletas de ponta. Desde o início do ano, técnicos da entidade preparam um projeto para abrir as portas das Forças Armadas aos esportistas.

O trabalho é baseado nas experiências de algumas importantes potências olímpicas, como Rússia, China e França. Países que usam a carreira militar para dar estímulo aos seus melhores competidores.

Ielena Isinbaieva, detentora da melhor marca do mundo e campeã olímpica e mundial do salto com vara, faz parte do Exército da Rússia. Em agosto de 2005, a saltadora entrou na carreira militar como tenente das Forças Armadas e, em 2008, foi promovida a capitã.

Mesmo assim, continua representando a Rússia nas principais competições mundiais.

"Queremos garantir aos nossos atletas uma remuneração fixa, todos os benefícios que os militares têm, além de colocá-los para treinar em instalações com boa estrutura", disse o ex-judoca Sebastian Pereira, que é gerente de atendimento do COB nas confederações de judô, boxe e lutas associadas.

Ele é um dos principais articuladores da entidade esportiva nas Forças Armadas.

"Fora isso, eles vão ter a opção de ingressar em uma nova carreira após o final do seu ciclo esportivo", acrescentou Pereira, que foi atleta e soldado do Exército por oito anos.

Um projeto-piloto já foi criado pela Marinha. No início deste mês, cem atletas se formaram em marinheiros no Rio, entre eles as judoca Ketleyn Quadros, bronze em Pequim-2008.

As inscrições haviam sido abertas para competidores de todas as modalidades.

A maioria das judocas da seleção feminina aderiu ao militarismo. O paulista Diogo Silva, do taekwondo, primeiro medalhista de ouro do Brasil no Pan- -2007, também é marinheiro.

Eles fizeram um curso de três semanas no Rio, mas não terão que fazer plantões no quartel.

"A função deles é representar o Brasil em competições", afirmou o tenente Maturana.

"Eles não terão nenhum trabalho burocrático para fazer. Vão poder treinar sem problemas e serão convocados por um determinado período para treinar nas instalações da Marinha", completou ele, que integra a comissão técnica da seleção brasileira de judô e é um dos estrategistas do time.

O soldo de marinheiro é atualmente de R$ 1.056. Apesar de o salário não ser dos mais altos, a estabilidade da renda e os centros de treinamentos oferecidos pelos militares são os principais atrativos.

"Essa verba ajuda muito. Até a semana passada, eu tinha apenas o salário do meu clube. Além do mais, posso ter uma nova profissão no final da carreira", declarou Ketleyn Quadros -a judoca cursa a faculdade de educação física.

Apesar de já elogiar a iniciativa da Marinha, os dirigentes do COB querem ampliar o projeto. A intenção é que alguns atletas de alto nível entrem nas Forças Armadas como oficiais.

O modelo adotado pelo COB está sendo formatado pelo grupo de técnicos da entidade e deverá ser apresentado ao Ministério da Defesa até o fim do ano.

Projeto visa pódio em Jogos do Rio

O projeto da Marinha de transformar atletas em marinheiros é uma tentativa de reforçar a delegação brasileira que vai disputar os Jogos Mundiais Militares-2011, no Rio.

"A meta é fazer um bom papel nos Jogos. Isso é claro", disse o tenente Maturana, um dos responsáveis pelo treinamento da equipe de judô na Marinha.

"Temos a responsabilidade de fazer um bom papel. Em troca, eles nos dão toda a estrutura. Temos fisioterapeutas, médicos, barcos, diárias para participar de competições e até técnicos", disse a iatista Renata Decnop, 23.

O Ministério da Defesa e a Marinha não informaram ontem quanto já foi gasto no projeto de militarizar os atletas de ponta.

O ministério também não informou se pretende ampliar para as outras Forças Armadas o programa de adoção de atletas.

O Mundial foi orçado em R$ 1,2 bilhão. A competição terá 21 modalidades e previsão de participação de aproximadamente 90 países e cerca de 6.000 competidores militares de todo o planeta.

Para recepcionar o evento, o governo terá de construir uma vila para abrigar os esportistas.
Sérgio Rangel
Folha de São Paulo
Fonte: Folha

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